terça-feira, fevereiro 06, 2007

Cientistas usam RNA para atacar cancro

Cientistas de uma universidade britânica e de outra alemã estão a pesquisar uma nova arma contra o cancro baseada na utilização de moléculas do ácido ribonucléico (RNA). As duas equipes, uma da Universidade de Oxford e outra da clínica universitária da cidade alemã de Tübingen, propuseram-se a atacar os genes humanos que permitem que os tumores cresçam desenfreadamente no organismo. Os pesquisadores se referem ao cancro como uma doença genética devido ao papel que os genes desempenham na proliferação incontrolada de células cancerosas, o que acaba criando um tumor. O enfoque radical adoptado pelas duas equipes consiste em utilizar moléculas de RNA -- substância similar ao DNA dos genes -- para "silenciar" ou desativar determinados genes-chave que têm relação com o crescimento dos tumores. Uma equipe da universidade de Oxford demonstrou em um estudo que é possível utilizar grandes moléculas de RNA para desactivar um gene responsável pela enzima DHFR, que contribui para a rápida proliferação das células cancerosas. A equipe de Tübigen utilizou moléculas menores de RNA em um estudo com roedores para desactivar outro gene que tem papel importante no rápido crescimento dos tumores cerebrais. Segundo Alexandre Akoulitchev, um dos pesquisadores de Oxford que participam do estudo, há um consenso crescente entre os especialistas em câncer de que as moléculas de RNA oferecem possibilidades inéditas para combater o cancro. A equipe de Oxford demonstrou que é possível utilizar directamente o RNA para actuar sobre o "interruptor de luz" genético que controla o gene da enzima em questão. Quando são "apagadas", as células cancerosas em processo de divisão ficam sem uma substância vital, a timina, uma das quatro bases químicas do DNA. "Inibindo o gene da enzima DHFR, poderíamos impedir o crescimento das células neoplásicas, células normais que se degeneram em cancerosas, como as do cancro de próstata", explica Akoulitchev. "Na prática, o primeiro fármaco anticancerígeno, Methotrexate, actua ligando e inibindo a enzima que produz esse gene", acrescentou. Outro enfoque é o adoptado pelo professor Michael Weller, diretor de neurologia geral da clínica universitária de Tübingen, que utiliza moléculas menores de RNA para desactivar um gene que impede que os tumores cerebrais sejam atacados pelo sistema imunológico do organismo. Nos trabalhos experimentais realizados com ratos que apresentavam tumores cerebrais, estes se descompuseram totalmente com a perda da protecção pelo gene "silenciado", conhecido pelo nome de TGF-beta. "Vimos primeiro os tumores crescerem e depois diminuírem de tamanho. Estou trabalhando nisso há dez anos e é a única tecnologia que nos permitiu produzir curas confiáveis no caso dos animais", afirma Weller. Os dois cientistas americanos que descobriram a interferência do RNA, Andrew Fire, da Universidade de Stanford, e Craig Mello, de Massachusetts, ganharam no ano passado o Nobel de medicina.

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