domingo, maio 20, 2007

Cientistas decifram genoma da cuíca

Uma equipe internacional de cientistas sequenciou pela primeira vez o genoma de um mamífero marsupial, a cuíca, num grande passo para o estudo do sistema imunológico e do cromossoma X, um dos responsáveis por determinar o sexo nos humanos e seus parentes mais próximos. Na pesquisa identificaram-se entre 18 mil e 20 mil genes, a grande maioria dos quais tem um equivalente nos mamíferos placentários, como o homem. Com a sequência do genoma da cuíca (Monodelphis domestica), marsupial nativo do Brasil e de outros países da América do Sul, os pesquisadores identificaram uma ampla gama de genes imunológicos, ligados ao sistema de defesa do organismo. Embora alguns genes sejam específicos desses animais, outros são compartilhados com mamíferos placentários. Segundo o estudo, as semelhanças estabelecidas indicam que os marsupiais, como os cangurus, coalas, cuícas e gambás, desenvolveram um sistema imunológico complexo quando se diferenciaram dos placentários, há cerca de 180 milhões de anos. Isso desmente a teoria de que os marsupiais teriam um sistema imunológico primitivo. Os marsupiais caracterizam-se por ter filhotes que nascem em estado muito imaturo. Por isso, o desenvolvimento embrionário é completado fora do útero materno, frequentemente numa bolsa externa (marsúpio) como a dos cangurus, que rodeia a região mamária. Esse fato talvez esteja ligado ao sistema imunológico complexo, já que o bebé marsupial precisa ser protegido de infecções fora do útero da mãe.
Outro dado interessante vem da estrutura geral do DNA dos marsupiais. Ao comparar o genoma da cuíca com a dos mamíferos com placenta, os pesquisadores verificaram que, ao longo do tempo, não foram exactamente os genes que se alteraram mais. Os genes, que contêm a receita para a produção de proteínas, costumavam ser considerados os principais responsáveis pela evolução. No entanto, as mudanças mais importantes parecem ter se acumulado, ao longo de milhões de anos, nas sequências que regulam os genes, e não neles próprios, sugere a pesquisa.Além disso, a descoberta pode trazer grandes avanços na medicina regenerativa relacionada com a espinha dorsal e danos no sistema nervoso periférico, pois os filhotes recém-nascidos das cuícas podem cicatrizar completamente os danos em sua coluna. A esperança é descobrir quais as características genéticas por trás dessa capacidade.

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